Só Na imensidão Só No caminho Só No ventre Só Entre muitos Só Fora de tudo Só Dentro do nada
Sozinha Até sem o eco dos meus próprios passos Que soam indo Nem sei pra onde E me abandonando Que deixaram rastos Em lugar algum Que marcaram vida nenhuma A ponto de me seguir
E sigo só Até sem eu mesma Que me perdi Em algum ponto do caminho Tão só Que nem eu sei mais Exatamente aonde estou
Olho em volta E não vejo nada Nem ninguém Nem meu próprio reflexo me encara Por não saber mais quem sou
Silêncio! Entre devagarzinho Não emita muitos sons Não se solte Não faça nada Não se mostre pra mim Não faça movimentos bruscos Você corre o risco de me acordar
Nem quero ouvir o zíper De suas roupas se abrindo... Deite-se assim mesmo E fique aqui ao meu lado Vigiando meu sono Que durmo por querer
Quero esquecer as dores Que os antigos amores Deixaram dentro de mim
Não me toque! Você é mais perigoso Do que todos que já me feriram E mais amante Do que todos que já me amaram
Então entre Deite-se aqui comigo Mas não me desperte... Por favor!
Optei em acreditar em meus olhos E descobri que eles me enganam Mais que meu coração. Ele lê o que as aparências escondem E não importa onde Meu coração tudo vê.
Ele percebe o sentimento Tudo o que se passa por dentro Ouve mais do que é dito no momento E sabe aquilo que preciso saber
Entro sorrateira Na casa que foi nosso ninho Olho tudo vazio Sem nossos risos Sem nosso amor Sem nossas fotos Sem nosso calor
E meu coração chora
Porque ainda ouço o eco da nossa voz Ainda sinto o amor que vivia em nós Apenas nós não estamos ali Sei que estas do outro lado Que como eu se mantém acordado Para provar que sobreviveu
Sou andarilha peregrina Seguindo as trilhas perigosas Do teu corpo em erupção Rolo pelas encostas E tonta perco a visão Uso o tato Ando de joelhos Suporto açoites Perco meus medos A te seguir na escuridão
Tão cansados Nem percebem que sofrem Perseguindo sonhos mortos. E nem vêem que a vida escorre Como urina pelos seus pés. Sem que sintam ela molha o chão Seca em si E se torna parte deles. Envenenando-os Protegendo-os E servindo de chamariz A moscas que lhes atrapalham E lhes toldam a visão.
Mas não... Só olham com olhos mortos As imagens que navegam Dentro de suas mentes Enevoadas por sonhos tontos Embriagadas por projetos tolos
E ficam os zumbis trabalhadores A construir um mundo de sombras Num lugar que não existe A não ser dentro de si.
Todos temos a nossa natureza Tudo tem seu fluxo O água desce O fogo sobe O ar se esvai As pessoas vão
Uns nasceram para cientificar Uns para construir Outros para quantificar. Eu nasci para amar... Meus olhos sempre a procurar e descobrir Tudo o que merece ser apreciado E assim vivo
Meus olhos sempre a desvendar O bom no mundo O belo em tudo O melhor em todos... Versificando contudo
Comparando aqui Analisando ali E me vou Esvaziando meu tempo Dando a mim meu sustento Que é entender a natureza das coisas Aceitar suas qualidades Respeitar os limites de cada um E saber que ninguém Pode dar mais do que tem Amar mais do que pode Ou ensinar mais do sabe... A não ser que o discípulo procure A verdadeira natureza das coisas
E assim os amo E assim os compreendo E assim vivo E vivendo sigo adiante...
O que me faz tremer? O que me faz ceder? E implorar satisfação?
A ti A teus desejos A tua libido?
A carne.
Ahh carne! Que estremece Quando escurece O dia da razão
Que se esconde no porão A praticar sandices No submundo do meu corpo A suar e agonizar Entre mãos Sob bocas No vento de suspiros Em vendavais de paixões
Pare corpo! Repouse. Que amanhã... Ahhh? Amanhã? Quem precisa de amanhã? Quero o momento Quero o fugaz sustento Pra fome que me consome.
Atravesso essa vida Esse tempo Fechando como um zíper Passado < futuro. E nesse fechamento Só uma textura aparece Eu hoje Só ele me dos subsídios E fica como marca Como concretude dentro de mim Uno os elos segundo a segundo E sigo... Fechando o ziper Fechando os ciclos
Vivo 100 anos a cada 1 E entendi que a morte É mais presente que a vida Que a cada sensação de vida Se esconde por trás a de morte
Não a morte física... Mas a exaustão do momento O último suspiro da quimera E extinção dos sonhos Que a cada segundo escorre
Nos deixando órfãos Nos deixando vazios De nossas ilusões De nossos anseios Que mais falecem Do que nos aquecem
E morrem nos deixando sós Com a careta crua de uma realidade Que sempre desconhecemos Porque vivemos em função de expectativas De realizações pra mais tarde De perfeição amanhã
Sim. Nos tornamos sábios
Mas também sobreviventes... Delinqüentes... Inconseqüentes... Porque descobrimos Que sempre antes de nós Os sonhos morrem primeiro.