sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

TODA MULHER SANGRA



TODA MULHER SANGRA
(Victtoria Rossini)

Toda mulher sangra
Pelos pés
Pelas mãos
Pelos olhos
Com o coração...
Tem o corpo em chagas
Em busca de uma ilusão.
De uma utopia
Que os racionais
Chamam de paixão.

Mas é nosso nome!
É a nossa fome
De boca aberta.
Um amar sem limites.
Cachoeira represada
A estourar por nada.
Sempre esperando
De aguardar chorando
O reencontro
Do que não foi...


E a sangrar ficamos
Aqui por anos
O amor sonhando
O amor procurando
Até a hora
Derradeira de ir

FUGINDO DA FOME

FUGINDO DA FOME
(Victtoria Rossini)


Os infantes famintos e esfomeados
Enfeitiçados fogem.

Fazem fantásticas farras
Festejando o fim
Da famigerada fila
Para filar farofa

Finalmente a fome findou!

A fartura foi formalizada!

Folguem felizes
Façam fogo
Foi farinha, feijão, farofa...

_Fiquem fixos para a foto
Farei filmes, fitas...

Festejaremos: a bolsa família chegou!

Foi fogo fátuo
Profecia falsa

Tudo faltou!

A fome fisiológica faz fantasmas febris
Fileiras de fósseis
Funde fetos amorfos
Facilita féretros
Faz fazenda virar favela
Fecha fossas profundas com corpos

Aiiiii

Enfastiada afasto
O fantasma falador
Que flutua minha volta
Me contando a sua sorte:
“Morri de fome!”

Ele se vai!!
Mas mesmo assim...
Tem fantasmas famintos
E ainda vivos
Perambulando por ai

EUSFINGE

EUSFINGE
(Victtoria Rossini)


Mistérios
Segredos
Meus medos
Meus credos

Eus fingem
Para mim mesma
Que sou clara
Translúcida...

Mas lúcida
Não me vejo!

Apenas louca
Me entretenho
Entre papéis de eus.

Me agarrando a tudo
Que chamo de meu
Pra me descrever
Pra me entreter
E não ver a face
Do meu próprio eu

Que finge viver

GUERREIRA



GUERREIRA
(Victtoria Rossini)

Sou da paz
Mas a vida sempre traz
A guerreira que vive em mim

Minhas lutas
Infindáveis lutas
Se travam em terrenos invisíveis
Em estados indizíveis
Além do bem e do mal


Mesmo sendo pacífica
Às vezes sou maléfica
Mesmo vivendo a fada
Às vezes ajo como bruxa

Porque as fadas só criam
São observadoras frias
Não julgam apaixonadas
Nunca interferem em nada
E SÒ podem ver o lado bom

A bruxa que vive em mim
Reconhece o mal
Percebe o sinal
E tenta intervir
Modifica o posto
Transforma o rosto
E nem sempre está a rir

Às vezes gargalha
E sempre chacoalha
A guerreira que vive em mim
E saio a campo
Entoando o canto
Que é mais grito e pranto
Que pó de pirilimpimpim

Mas cultivo a guerreira
Por mais que às vezes queira
Simplesmente existir...
E me visto pra guerra,
Porque viver aqui na terra
É uma luta sem fim


* * * * * *

ANJO CORAÇÃO

ANJO CORAÇÃO
(Victtoria Rossini)

Tenho um companheiro
Que é mais que um parceiro
É quase um querubim
Me mantém entre as nuvens
E os problemas que surgem
Dissolve pra mim

Minha cama é seus braços
Que me prendem como laços
Retirando os cansaços

Homem coração
Transbordando amor
Que mesmo cheio de ardor
Protege a pureza em nós
Nos conserva fora do mundo
No estado de amor profundo
E tenta nos proteger da dor

Tanto amor
Tanta coragem
Tanta determinação
Só fortalecem a imagem
Do meu anjo coração
Que nasceu só para amar

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

SABEDORIA

SABEDORIA
(Victtoria Rossini)

A sabedoria e a verdade
Jorram por todas as portas e rachaduras do universo.
Temos que apenas estar atentos
E aprender a reconhece-las
Recebe-las e aplica-las na nossa vida!


(Victtoria Rossini)

Quando o iverossímil
É assimilado sem medo
As diferenças entre possível e impossível desparecem!
Salte!

VOCÊ TEM FOME

VOCÊ TEM FOME
(Victtoria Rossini)

Teus desejos tem muitas bocas
Vais matá-las de inanição?
cortejá-las?
ignorá-las?

As portas dos teus sentidos
São abismos escancarados
Ativos e famigerados

Você é o que é
Porque foi nutrido
Alimentado de conceitos
Aprendidos e apreendidos
Pelos idéias e crenças de toda a humanidade

Você é você
Mas ao mesmo tempo
È todos que já vieram
É todos que já partiram
Porque o alimento deles
Também vive em ti

O que você fará agora
Com essas bocas famintas?
Famintas de conceitos
Famintas de descrições e explicações para o mundo
Famintas de conhecimento
Famintas de prazer
Famintas de poder
Famintas querer
Famintas de iluminação
Famintas de emoções podres
De dores, pena, piedade, melancolia, amor viciante...
Que o mundo mesmo sem querer te ensinou a curtir

Sim!
Você tem muitas bocas
Você tem muitas portas
Quais alimentar?
Quais fechar?

Você tem fome de que??

* * * * * * *

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

SAPO



SAPO
(Victtoria Rossni)


Sou sapo
Morrendo afogado...
Acostumei-me ao seco
Agora tenho medo
De resvalar nas pedras
E pela água ser sugado

Sapo velho
Couro maltratado
Cicatrizes antigas
Inimigos temidos
Na velha lagoa
Que está secando


* * *

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Carta a Florbela Espanca

Esta carta faz parte de uma carta gigante que vários escritores estão escrevendo para ela, uma homenagem.


DESCONSTRUINDO FLORBELA ESPANCA
(Victtoria Rossini)


Hoje espiei-te pela fechadura.
Choravas...Como choravas em todas as vezes que te vi. Vejo tuas lágrimas, presencio tua dor. Hoje ví o sangue escorrendo do teu ventre, de tanto ardor, de tanto amor...
Que adianta Florbela?Ja paraste para pensar? Tantos homens em tua vida, ( e isso desde teu pai, teu irmão) tantas promessas não cumpridas, sonhos e energia jogados ao mar.
E mesmo assim...Quando levantas deste chão úmido se sangue, suor, espinhos e lágrimas ainda tens coragem de sonhar. Acaso és louca Florbela?
Diga-me:Que vale a vida Florbela?Que vale o amor? É paga pra tanta angustia, tanto sofrimento, tanto engano, tanta dor?
Pegue teus sonhos rapariga e enterre-os. Bem no fundo, no fundo da alma...Rasgue-os, queime-os. Pegue esta tua fome de amor e faça-a morrer de inanição, ou ela comerá você Florbela, comerá teu corpo, como ja engoliu tua mente e tua alma.
Faça qualquer coisa, mas não fiques ai mergulhada nesse oceano de horror, onde as ondas ora te jogam para o alto, então ris e te acarinhas inteira, ora te joga nas profundezas, de onde uivas como um cão.
Eu te prometo Florbela: a calmaria, o sossego,a paz,o descanso eterno...
Vem comigo Florbela!
Vem...
Te espero.

Ass:A morte

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

LÍNGUA PÉTALA



LÍNGUA PÉTALA
(Victtoria Rossini)

Flui
Por entre as montanhas
Quentes dos meus dentes
A brisa leve dos conceitos percebidos
Vinda do centro
Move a língua pétala
Fazendo vibrar o som da criação
Produzindo o brotar das palavras
Criando no ar uma flor

E as palavras reunidas
Par em par ao meu redor
Dançam líricas
Sorriem cínicas
Me encarando
Com mesmo ardor

Olho para elas como um apaixonado
Jogo-as ao vento
Olhos vendados.
E os revérberos nos meus ouvidos
Mostram que valeu terem florescido
Todas as mensagens despetaladas.


* * *

ADÃO E EVA


ADÃO E EVA
(Victtoria Rossini)


Dois seres da mesma raça
Se reconhecem em um jardim

Olhos nos olhos
Corações em uníssono
Boca seca
Curiosidade
Desejo de saber tudo o que se passa na mente do outro
Necessidade de estar sempre juntos
Se unir
Se tocar
Serem UM

Mas se rodeiam
Giram um em volta do outro
Se conhecendo
Se admirando
Descobrindo os corpos, as mentes
Respiração se atraindo
E ficam ali durante luas e luas

Até que disseram as palavras mágicas
E a magia se instalou

Nesse momento se ouviu no mundo
O som dos primeiros apaixonados

Os raios saíram para comemorar
A água correu mais rápido
Os pássaros cantaram
O vento se fez sentir

Porque aquilo que os fazia humanos:
Os desejos
As paixões
A consciência
Que deveriam ser silenciados para que virassem deuses
Foi usado para que dois seres se unissem
Procriassem
Se amparassem
Em amor e devoção

E desse dia em dia em diante
EU TE AMO
Se tornou o mantra
De todos os Adãos
E de todas as Evas
Que se reencontram no caminho
E desejam novamente
Tornar-se UM SÒ SER



* * *

PAI E FILHO

PAI E FILHO
(Victtoria Rossini)


Espiando por entre as frestas do casebre
Os raios da lua cheia
Vêem duas velas tremeluzindo
Sobre a mesa rústica e estreita

Dois olhos fixos e tensos
Quatro mãos a se conter
Pai e filho se encaram
A ancestral luta de poder
Que se trava
Quando a cria já ganhou asas
E audaciosa quer sair do ninho

O amor
A dor
A saudade antecipada
O desejo de pegar a estrada
A eterna necessidade de proteger
Se digladiam como espadas invisíveis
Sobre as cabeças que se desafiam

Apenas com um jogo de olhares
Toda luta é compartilhada
Pelos dois oponentes
Sem nenhum esmorecer
_ “Quero ir!”
_ “Quero que vá!”
_ “ Quero ficar!”
_ “Quero que fique!”
_ “ Eu vou vencer!”
_ “ Sei que vai!...Mas queria estar contigo na jornada..”
_ “ Não pode! Está é a minha luta!...”

E a luta que parecia a dois
Já é apenas dentro de cada um...

Libertar o que se viveu para cativar


* * *

REALIDADE APARENTE


REALIDADE APARENTE
(Victtoria Rossini)

A realidade aparente
Com suas garras potentes
Com seus olhos dardejantes
Me coloca pra dormir

Mas quer me proibir de sonhar

Me derruba com seu hálito
De CO2 a me sufocar
Suas necessidades escravizadoras
Sua voz evangelizadora
Existem pra me hipnotizar

Se auto-nomeia a dona do mundo
Mas não esqueço um só segundo
Quem é o dono deste lugar

Como da sua carne
Me embriago com seus doces
Bailo na tua dança
Mas sei perfeitamente
Quem é o dono da minha mente

Eu te criei gigante!

Se bom
Se ruim
Se ótimo
Nem tão horrível assim...

Eu te alimento!
Eu te sustento!
Com meus sonhos
Com meus desejos
Com meus medos
Meus reconhecimentos
Meus julgamentos
Minhas omissões
Minhas opiniões

Minhas crenças....

Então gigante de átomos...
Vou cantar pra você dormir...

* * *

domingo, 24 de fevereiro de 2008

VITÒRIA



VITÓRIA
(Victtoria Rossini)

Todos querem meu corpo
Me estraçalham pelos campos
Hipnotizam-se aos meus encantos
E mais nada conseguem ver

Dilaceram suas entranhas
Doam-se a estranhos
Dão seu tempo aos exigentes
Suas vidas são trocadas
Pelo brilho da minha glória

Sim!!!
Sou a vitória!
Mas ninguém quer saber
O que se esconde em meu querer

O que será para ti vitória?
Será vencer ou perder?
Será ter tudo o que quer?
Seus desejos realizar?

Será que não serão as derrotas
Que te farão aprender?
Não será o frio
O nevoeiro
Que te farão ver e florescer?

Lembre-se vitorioso:
Nem sempre o que você quer
É o que te fará crescer!!


* * * * * * * * *

VISITANTE

VISITANTE
(Victtoria Rossini)

O Viajante
Chegou como um cinturão cheio de idéias
Carregado com mísseis de palavras,
Calçava nos pés as esporas da razão
E se cobria com o enfeitado manto do conhecimento

Mandei-o entrar
E perguntei se queria sentar
Olhou em volta
Puxou o cinturão de lado
Ajeitou a pose
E começou a me metralhar
Atirou em mim
Tudo o que ouvira e aprendera
Em sua “longa caminhada pela vida”

Disse que queria poupar-me
Que se prestasse atenção não precisaria
Passar por tudo o que ele passou
Que por gostar de mim me ensinaria
Tudo que o que ele na busca
Pelo caminho havia aprendido

E continuou a me atirar:
Recebi balas de “autores PG”
Mísseis de “pensadores idem”
Ataques de “filósofos Sic X”

E fiquei extática
Ao ver que ele tinha entendido
Tudo o que ele precisava
Mas nada do que eu precisava.
Que naquele momento
“ELE” era a minha lição
E não o que ele havia aprendido

O DIA DA MORTE

O DIA DA MORTE
(Victtoria Rossini)

O dia em que o sonho morreu em mim
Ainda lembro claramente
E tenho em minha frente
Os papéis brancos
Com meu sangue escorrendo em cor

Sigo com os olhos
A imagem dos meus gemidos
E olho mortificada
O dia que desesperançada
Matei o sonho em mim

HERÓI



HERÓI
(Victtória Rossini)

O riso
Pulou o rio
Saltou pelas pedras
Dos amargos relacionamentos
E salvou uma vida

Onde não há risos
Não tem como respirar
O ar é pesado
A mente não funciona
A língua trava

Sem risos
È morte em vida
È vida sofrida
Por mais que seja leve

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

HOJE NÃO ESQUECEREI


HOJE NÃO ESQUECEREI
(Victtoria Rossini)

Hoje
Ao mirar os olhos dos que me cercam
Em momento algum esquecerei

Que um olhar vale mais que mil palavras
E deixarei meus olhos levarem carinho

Que conhecimento não é sabedoria
E tomarei minhas decisões baseadas em outros valores

Que gargalhada não é felicidade
E valorizarei mais a harmonia que os risos

Que paixões não é amor
E viverei menos em função de atrações e repulsões pessoais

Que as vezes quando se perde se ganha
E procurarei repensar mais minhas vitórias e perdas

Que baixar as armas não é perder uma batalha
E colocarei a flexibilidade como minha melhor arma

Que um gesto de amor vale mais do que uma correção
E será lembrado por vidas inteiras

Que hoje pode ser o último dia
Que terei para dizer
Para cada um que cruzar por mim:
Me desculpe.
Muito obrigada!
Eu te amo...

E isso inclui a mim mesma

BAKTI




BAKTI
(Victtoria Rossini)

Olhando amorosamente
As gotas d’água escorrendo
Lentamente pelo meu corpo
Descobri o segredo do mundo

È o tempo escorrendo pela minha vida
Sãos os seres escorrendo pelos meus dedos
São as situações se esvaziando em mim

Se eu fizer nesse momento
A minha parte
Vivificando cada gota desse oceano
Que por mais que pareça estar indo
Sempre está retornando
Que por mais que sempre faça a curva
Na verdade está se afastando
Captarei o instante mágico
Do entendimento e da compreensão.

Não adianta eu tentar perceber
O além, o oceano longínquo
Se sequer percebo as gotas que caem aqui

Se abrir a palma da minha mão
E esta gota, esta única gota
Me reconhecer, e se eu percebê-la
Aqui há magia
Aqui há salvação

A parte que me cabe realizar no mundo
Está aqui
Olho bem...
Bem aqui!!
No meu nariz
Nas minhas costas
Na minha vida
No meu irmão

_ “cumprir o meu dever simplesmente por ser meu dever...
Em entrega e devoção..”
A mais nobre missão

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

PORQUÊS

PORQUÊS
(Victtoria Rossini)

Proteja-se!
Se não quiser se sujeitar
Aos temporais que poderão cair sobre você
...Porque quem ta na chuva
Pode se molhar...

Esconda-se!
Se não quiser que vejam
Você errar
...Porque errar é humano...

Transforme-se!
Se não quiser uma vida sempre igual
...Porque você é o senhor das mudanças
E enquanto VOCÊ não mudar
Nada mudará na sua vida....

Sorria!
Se não quiser que a tristeza
Te siga onde você for
...Porque os iguais sempre se atraem...

Ouse!
Se não quiser viver na mesmice
De uma vida pacata
...Porque viver dentro de limites
É ser limitado...

Instrua-se!
Se não quiser que a ignorância te sufoque
...Porque a ignorância
É a mãe de todos os sofrimentos...

Viva intensamente!
Se não quiser a vida
De um morto-vivo
...Porque viver pela metade
É não viver de jeito nenhum...

Ame loucamente!
Se não quiser morrer
Sem saber o que é viver
...Porque quem nunca amou
Nunca viveu...

Morra!
Se não quiser se expor
As incertezas que a vida traz

...Porque NESTE mundo
Só os mortos:
Não erram
Não se expõe ao ridículo
Não sofrem
Não aprendem
Não se superam
Não choram
Não vivem
Não amam

domingo, 17 de fevereiro de 2008

CONSTRUÇÃO

CONSTRUÇÃO
(Victtoria Rossini)

Ando alquebrada
Carrego pedras enormes
Para construir um castelo
Que em breve
Vou abandonar

Gasto meu tempo
Planejando janelas
Que nunca me permitirão ver
O que realmente
Quero enxergar

Estendo camas
Para mim e para os outros
Que por mais belas que sejam
Por mais cansada que esteja
Nem eu quero deitar

Esfrego todos os dias
Um assoalho brilhante
Onde até posso me olhar
Mas aqui, meus verdadeiros pés
Sequer podem tocar

Porque cuido tanto dessa construção
Com suores, cansaços, esforços?
Se estou prestes a viajar?

Porque me apego tanto a matéria
Se sempre soube que ela
Um dia terei que deixar?

OBSESSÃO

OBSESSÃO
(Victtoria Rossini)

Meu olhar varre o infinito
Escolhe um ponto
E para

Já fui livre
Distraída
Desapegada

Hoje varo mundos
Atravesso cidades
Uso todos os meios
Para te encontrar

Conheço teu tom
Conheço teu cheiro
Conheço teus medos
Teus desejos...

Sei o que quer
Conheço mais a ti
Do que a mim mesma
Te conheço mais
Do que você mesmo

Durmo quando você dorme
E acordo antes para te despertar.
Como o que você come
E na mesma hora
Para não perturbar

Sempre olho nos teus olhos
Para ver onde você pisará
Te arranco os espinhos
Te amparo no caminho
E carrego para ti
O que vais precisar.
Cheguei antes
Para estar pronta
Para te amar

Vivo
Porque você vive
Sinto que existo
Porque te sinto

Mas sei que essa obsessão
Um dia vai terminar

Mas continuo minha rotina
De te seguir
De te encontrar
De te amar

Até ela passar...


*** *** ***

CHIBATA

CHIBATA
(Victtoria Rossini)

Ouço o estalar do chicote da realidade:
_Levanta!
_Vai trabalhar!

E o materialismo com seu pulso forte
Continua a me chibatar:
_Tens que ganhar dinheiro!
_Tem que aprender guardar!

A voz do capitalismo
Me ensurdece ao gritar:
_Vamos!! Anda comprar!
_Todos tem! Você vai ficar sem?
_Você também pode ganhar!...

Ai meus ouvidos!
Ai meu corpo dolorido!
Eu não quero nada disso!!

Sou pássaro cantor
Só preciso de palavras
Da relva verde
Da chuva e da imensidão

Não nasci pra ser escravo
Do dinheiro
Das coisas
Das formalidades
Ou da situação!

Me larguem
Meu lugar é as nuvens
Quero apenas voar

MEDOS

MEDOS
(Victtoria Rossini)

Estou trancada
Em minha casa de quatro paredes
Deitada embaixo das cobertas
Com a cabeça entre os lençóis

Ouço passos na noite lá fora
Eles rondam... Param...Continuam...
Estão a minha espreita.
Tentam ouvir o som da minha respiração
Para saber se ainda estou viva...
Se continuo aqui

Eles querem entrar
Olhar nos meus olhos
Me aterrorizar
Tem grandes, pequenos, visíveis, invisíveis...
Tomam todas as formas que receio
Todos os corpos feios que sonhei
Para poder me atormentar

Mas me refugio aqui
Na minha caixa de ilusão
Brincando de dormir
Para não encarar meus medos
Que perambulam na escuridão

TRANSE

TRANSE
(Victtoria Rossini)

Vivo em transe
Transo a vida
Tranço flores
Tranco lágrimas
Traço planos
Tramo vias

Transito em mundos
Trancafiados em mim

As trancas que arrebento
Tranquilamente enfrento
Pois sei que sou apenas
Transeunte aqui

Ser em trânsito
Transmutando...
Transpirando...
Transcendendo...

sábado, 16 de fevereiro de 2008

VERÃO

VERÃO
(VIcttoria Rossini)

Verão..
É tempo
De se expor aos outros
De exteriorizar
De sair da concha
E confraternizar
Com toques
Olhares
Desejos
Gratidão
Ou simplesmante dar a mão.
A consciência se volta para fora
Para os outros
Para o que nos cerca
Porque a luz do sol
Nos da impressão
Que "conhecer " o outro fica mais facil
Porque ele também ta se expondo...

Tudo tem seu tempo...
Logo o sol se afasta da terra
E mais uma vez
Nosso olhar se dirigirá para dentro
Fechando mais um ciclo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

CAMISA

CAMISA
(Victtoria Rossini)


Encontre-a num varal no caminho.
Em fibras de pergaminho
Ela reluzia sozinha
A beira da estrada...
Tinha escrito no peito
O simbolo da vitória
E desenhada nas costas
O mapa dos mundos
vesti-a...
Imediatamente fui transportado
Para outro estado
Para outro lado
Agora trago
O Zen no peito
O saber nas costas
O bem na alma
Tudo por causa de uma camisa
Que encontrei por acaso
Sem saber que ja era minha!!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

PRESO AS PAIXÕES

PRESO AS PAIXÕES
(Victtoria Rossini)

Quem está
Com a vida inteira
No abismo das paixões
Se enterra até os olhos
Não vê nada além do chão

Fica ali ajoelhado
Mergulhado em sua dor
Ou gozando em estertores
Sem prestar nem atenção
No que ocorre
Além dos muros
Da sua própria prisão

Prende as próprias algemas
Nas grades do coração
È escravo por querer
Prisioneiro em sua dor
Seus prazeres
Sua carne
É seu ópio
E seu amor

OI AMOR!

OI AMOR
(Victtoria Rossini)

Oi amor!!
Presente.
Sim...
Estou aqui
Sentada em teu colo
Abraçadinha em teu pescoço
Sentindo o calor da tua pele
Ouvindo tua respiração
Sentindo teu calor
Aspirando teu cheiro
Me preenchendo de você

Amanha?
Não importa
Hoje estou abastecida
A minha fonte de vida
Transbordando de prazer

Ontem?
Não te conhecia
E minh’alma só queria
Chegar perto de você.
Sabia que você existia
Pelo vazio que se fazia sentir
Tua falta não dizia
Como você poderia ser

Mas agora te encontrei
Teu abraço é meu abrigo
Aqui quero morrer

AAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIII


AAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIII
(Victtoria rossini)

Aiiiii
Aiii minhas dores
Aii meu coração dilacerado
Ai de mim que ousei alcançar o céu
E tocar o coração de um anjo
Cai de costas
De alturas infinitas
Quebrei todos meus ossos
Não me restou sequer UM sonho
Foram todos esmagados sob meu corpo
Sob o peso das muitas imagens
Que eu mesma criei
Passarei dias
Com mãos tremulas
Colando meus cacos
Desesperada olhando para meus próprios restos
Espalhados pelo chão
E balbuciando entre gemidos
Entrecortados de aiiiss

Aaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Quem me dera eu tivesse ouvido
A voz da minha própria razão
Os risos de escárnio que vinham
Trazidos por varias mãos
Porque fui subir atrás dessa ilusão???
Agora arranco os cabelos e lamento
Rolando enroscada em um porão
Bebendo meu próprio fel

Mas era linda a paisagem que surgia
E segui hipnotizada
O sorriso
As mãos abertas
Chamando
Não notei que para ele
Eu também era apenas uma imagem
Uma miragem na escuridão


Ai minhas dores
Quero respirar
Preciso secar esse mar de lagrimas que estoura em mim...