terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Carta a Florbela Espanca

Esta carta faz parte de uma carta gigante que vários escritores estão escrevendo para ela, uma homenagem.


DESCONSTRUINDO FLORBELA ESPANCA
(Victtoria Rossini)


Hoje espiei-te pela fechadura.
Choravas...Como choravas em todas as vezes que te vi. Vejo tuas lágrimas, presencio tua dor. Hoje ví o sangue escorrendo do teu ventre, de tanto ardor, de tanto amor...
Que adianta Florbela?Ja paraste para pensar? Tantos homens em tua vida, ( e isso desde teu pai, teu irmão) tantas promessas não cumpridas, sonhos e energia jogados ao mar.
E mesmo assim...Quando levantas deste chão úmido se sangue, suor, espinhos e lágrimas ainda tens coragem de sonhar. Acaso és louca Florbela?
Diga-me:Que vale a vida Florbela?Que vale o amor? É paga pra tanta angustia, tanto sofrimento, tanto engano, tanta dor?
Pegue teus sonhos rapariga e enterre-os. Bem no fundo, no fundo da alma...Rasgue-os, queime-os. Pegue esta tua fome de amor e faça-a morrer de inanição, ou ela comerá você Florbela, comerá teu corpo, como ja engoliu tua mente e tua alma.
Faça qualquer coisa, mas não fiques ai mergulhada nesse oceano de horror, onde as ondas ora te jogam para o alto, então ris e te acarinhas inteira, ora te joga nas profundezas, de onde uivas como um cão.
Eu te prometo Florbela: a calmaria, o sossego,a paz,o descanso eterno...
Vem comigo Florbela!
Vem...
Te espero.

Ass:A morte

Um comentário:

Cristina disse...

Gostaria eu mesmo de ter mandado esta carta à Florbela!
Quem sabe um abaixo-assinado? Se chegasse a tempo...
Tão intensa, tanta mágoa, que a gente nem entende como suportou tanto tempo. Suportou?
Entendo tua carta e compartilho do empenho em tentar...? salvá-la. Será que quis?
Ainda bem que nos deixou este legado; amor-escrito-sangue, bem guardado.