domingo, 4 de maio de 2008

APENAS UM VELHO JARDINEIRO

APENAS UM VELHO JARDINEIRO
(Victtoria Rossini)

Olho o sol e a lua a brilhar profanos
Sobre os corpos nus.
Olho os frutos a cair de maduros
Despejando o suco
Sobre o solo seco
Que lhe recebe de olhos vendados.

Sinto a chuva e deslizar ligeira
Inundando os campos
Enchendo de encantos
A terra inteira.
Sinto a harmonia!
E esta alegria me desespera.

Tudo brilha
Todos estão felizes
Por um motivo ou outro.
Mesmo com seus matizes
O dia e a noite
Se entendem se misturando.

Só eu
Que tenho todos os motivos
Pra sorrir contente.
Que tenho a vida que sempre quis
Que tenho tudo pra ser feliz
Pareço não ter nada
Realmente importante.

Estou indiferente
Ao fogo e a água
A vida e a morte.
Se o dia vai
Se o dia vem
É apenas mais um...
Pra mim tudo bem!

Se chorar de alegria é bom
De tristeza também.
Se o começo é ótimo
O fim idem.
É só mais uma experiência
Que vai e que vem.

Pra que tantos dias?
Pra que tanta angustia?
Tanta esperança?
Se no final das contas
Tenho apenas que equilibrar a balança
E me jogar de novo
No velho jogo
De xadrez da vida?

Sou um jardineiro velho e cansado!
Já plantei as arvores do Éden
Já colhi a colheita santa
E eu mesmo podei as espinheiras do inferno.
Já vi o sol secar minhas flores
E vi as sementes renascerem depois de mil anos.

Quer saber como me sinto
Vendo as crianças
Pular amarelinha no velho tabuleiro de xadrez
Criado por Caim,
Achando que foram elas que o desenharam?

Às vezes alegre por sabê-las criança
Com mente zerada e cheia de esperança!
Ás vezes velho e sem mistérios
Conhecendo os caminhos
Reconhecendo a dança.
Querendo ter esquecido
Como elas o acontecido.
Mas meus olhos secos
Com a insônia dos tempos
Não me deixam esquecer
Nem por um momento
Toda a história
E os caminhos dos ventos

Sim!
O que você pede
Eu agradeço.
Entrego o fado!
E só por um instante
Queria olhar tudo
Com olhos jovens
De deslumbramento
E achar que a vida
Começou agora
E só o que importa
É o contentamento.

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